domingo, 3 de julho de 2011

Entrevista de Clauder Arcanjo para a GAZETA DO OESTE Caderno EXPRESSÃO

Maio de 2011

Gazeta do Oeste – O que significa a posse na Amol?

Clauder Arcanjo – Antes de tudo, um generosos presente dos homens de letras de Mossoró a este aprendiz de escrevinhador. Para mim, a oportunidade de trabalhar mais para a literatura de nossa querida província. Como sei que o desafio é sempre maior do que as minhas habilidades, prometo muita dedicação e persistência, pois, parafraseando a Bíblia, uma fé literária sem obras é letra morta.

Gazeta do Oeste – Comente sobre o patrono da cadeira 30, o jornalista e fundador de O Mossoroense, Jeremias da Rocha Nogueira.

Clauder Arcanjo – Jeremias da Rocha Nogueira é um ícone da imprensa mossoroense; melhor, da imprensa potiguar e nordestina. Em épocas onde tudo era mais difícil, ele arregimentou mentes e músculos para fincar as bases de uma imprensa local de qualidade. Um trabalho quixotesco, mas, felizmente, repleto de frutos. A geração atual se surpreende com o número de periódicos diários de nossa Mossoró, porém, se estudassem um pouco mais a vida intelectual desta Terra de Dorian Jorge Freire, saberia que tudo se deveu a homens como Martins de Vasconcelos e Jeremias da Rocha Nogueira, dentre outros. Será que os nossos estudantes de Comunicação já leram acerca deste grande mestre?

Gazeta do Oeste – E acerca do último ocupante, o contista Milton Pedrosa.

Clauder Arcanjo – Milton Pedrosa foi um profícuo e zeloso homem de letras. Radicando-se em Minhas, e depois no Rio de Janeiro, produziu uma obra literária digna e pujante. Crônicas, artigos, contos, resenhas e romance. Em especial, Passos cegos. Romance esse ambientado em Mossoró, lastreado em uma prosa enxuta e precisa. Milton Pedrosa faria cem anos em 2011. Aprecio muito a sua narrativa, e não me canso de reler os seus escritos. Quando fui convidado para ocupar a sua cadeira, confesso, fui invadido por um misto de orgulho e medo. Orgulho, pois sou contista, de me ver na cadeira de um escritor que venero e aprecio, medo... pois não me vejo à altura do meu antecessor. No entanto, Elder Heronildes e os demais acadêmicos julgaram-me digno. Em especial, a advogada da minha indicação, a prosadora e poeta Zenaide de Almeida Costa. A ela, declaro em público, nunca posso negar nada.

Gazeta do Oeste – Como a Academia poderia potencializar suas atividades?

Clauder Arcanjo – O muito em cultura sempre é pouco. E o pouco, em cultura, se bem regado, pode ter a força telúrica de um grão de mostarda. A Academia, geralmente, expressa a operosidade dos homens e mulheres de uma época. E sinto que as confrarias, as agremiações, os institutos, os acadêmicos estão sendo cobrados a se envolverem e participarem mais da vida intelectual de nossa gente. E a nossa Amol não fará ouvidos de mercador a esse tão nobre clamor.

Gazeta do Oeste – Esses novos nomes que estão tomando posse já demonstraram vontade de mudar a perspectiva literária da entidade?

Clauder Arcanjo – Mossoró é terra de brava gente. A superação e a resistência se confundem com a nossa história. Os novos empossados, dispensa nominá-los, são homens de notório saber, detentores de uma obra já posta e respeitada. Isso tudo é um senhor passaporte para a construção de um novo amanhã.

Gazeta do Oeste – Como escritor, como você avalia o cenário literário local?

Clauder Arcanjo – Um misto de novidade e de tradição. A novidade encanta e provoca os mais jovens, desafia os acomodados, além de renovar o estrume das letras. A tradição chama-nos à humildade, ao respeito aos que nos antecederam. O sucesso, o maior desafio, é a comunhão equilibrada desses dois mundos. E, lutarei dia e noite, para que um mundo não destrua o outro. Eles se digladiam, contudo, paradoxalmente, ao se digladiarem, mais se fortificam.

Gazeta do Oeste – Como poeta, o que podemos encontrar em sua obra?

Clauder Arcanjo – Novenário de espinhos (Sarau das Letras) é, antes de tudo, um livro de principiante. Obra de um leitor apaixonado de poesia, de um homem sempre encantado com os mestres da poética: Drummond, Cecília, Bandeira, João Cabral de Melo Neto, Martins de Vasconcelos, Cid Augusto, Marcos Ferreira, Kalliane Sibelli de Amorim, Jomar Rêgo, Antônio Francisco, Padre Antônio Tomás, Manoel de Barros, Castro Alves, Octávio Paz, Mario Quintana, Mário Gerson, Paulo de Tarso Correia de Melo, Lilia Souza, Ivan Junqueira, Sânzio de Azevedo, Miguel Torga, Rizolete Fernandes, Vianney Mesquita, Carlos Nejar, Afonso Romano de Sant’Anna, Aécio Cândido, dentre tantos e tantos outros. Nela, a luta para desvelar as minhas angústias, e as tragédias que nos rodeiam o dia a dia. Um canto amargurado, mas, para mim, deveras terapêutico.

Gazeta do Oeste – Novenário de espinhos – poesia ou prosa? – como defini-lo?

Clauder Arcanjo – Para mim, e Deus queira que para os leitores, um livro de poesia. Defini-lo? Não seria capaz. Deixo tal missão para os críticos e, claro, para os leitores.

Gazeta do Oeste – O poeta Clauder Arcanjo já encontrou “a sua voz interior”?

Clauder Arcanjo – A voz interior deste provinciano poeta está ainda tímida; à procura de sua identidade própria, diria. Tento conter-lhe a ânsia de afirmação, pois, assim como uma pessoa, essa coisa vem com o tempo. Quem sabe no próximo livro ela não se revele melhor! (risos...)

Gazeta do Oeste – Como você avalia o fazer poético? Quais as imagens, em sua opinião, necessárias para um “bom poema”?

Clauder Arcanjo – Pergunta capciosa, meu caro! Se soubesse respondê-la, bandeava-me de mala e cuia para a ensaística (mais risos...). Vejamos, no entanto, algo que me toca como leitor de poemas: um poema bem urdido cala-nos no fundo d’alma. Nesses momentos, a sensação que nos invade é a de que sempre queríamos ter escrito, ou dito, aquilo, só não sabíamos como. Muitas vezes, flagro-me, frente às grandes construções melódicas, gritando: “É isto! É isto!...” Numa espécie de vibrante eureka poético.

Gazeta do Oeste – Como mudar o cenário da literatura mossoroense, tão acanhada com os “velhos nomes de sempre”?

Clauder Arcanjo – Em primeiro lugar, os novos têm que correr atrás do seu lugar no palco literário. Em segundo, os “velhos nomes de sempre” devem ser respeitados; a tradição não deve ser vista como inimiga a ser dizimada. Cada letra vitimada tem como vítima maior a própria literatura. Há espaço para os dois mundos, insisto. E, o que é melhor, repito, um não pode, nem deve, viver sem a presença do outro.

Gazeta do Oeste – A poesia tem o espaço merecido na cidade ou é preciso fazer mais?

Clauder Arcanjo – Sempre é preciso fazer mais. Porém Mossoró não decepciona no campo poético, o que nos falta é um maior público leitor, desconfio que estamos cada vez mais a escrever para nós mesmos. E isso é muito ruim e perigoso. Não há escritor sem leitor. Não há poeta sem leitor de poesia.

Gazeta do Oeste – Suas considerações finais, Clauder Arcanjo.

Clauder Arcanjo – Quero sinceramente agradecer pela entrevista. E, para encerrar, um pedido (mais uma paráfrase... risos): não reparem na minha tosca poesia, mas, sim, na fé que anima este aprendiz de poeta.

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