segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Contos para dezenove de junho


Clauder Arcanjo

O velho

Enfermaria silenciosa. Ao canto, um leito e, sobre ele, um velho doente. A idade e a moléstia encarquilharam seu corpo, emudeceram seus lábios.

O dia e, com ele, a faina do hospital.

Primeiro, a servente com a limpeza; mecânica, nenhuma saudação.

Depois, a serviçal com o lanche; rápida, vazia de palavras.

Logo a seguir, a enfermeira da medicação; protocolar, injeção e pílulas, nada de intimidades.

Por último, o médico de plantão; a checar a ficha sem sequer pôr os olhos no paciente paciente.

Só então o silêncio de novo se achegava, trazendo a única companheira do velho: suas lembranças. E ele a se urinar feliz dentro da noite, como se satisfeito com esse último naco de vida.

***

O velório de Teté

De repente, a chegada da morte em um ataque fulminante do coração. Familiares em luto, lágrimas caudalosas da esposa amantíssima.

No velório, uma fila de jovens damas, rosas vermelhas postas junto ao caixão de Teté. Um beijo nos lábios rijos, uma lágrima furtiva e um soluço no fundo do peito de cada uma dessas mulheres.

E mais pranto por parte da esposa aflita: “Teté!... Pelo amor de Deus, Teté!”

***

Olaria

Começava a labuta no frio da madrugada. Lenha, fogo e barro. Fogo, barro e lenha. Barro, lenha e fogo. O dia inteiro.

Quando o sol se escondia no pé da serra, e a noite se anunciava, os bichos-homem, vestidos de barro, caminhavam pesados de volta para as suas taperas.

No rosto, a marca de que queimaram, com seu fogo, a lenha e o barro, fazendo tijolos e telhas que nunca seriam de suas casas.

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