segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Contos para doze de junho


Clauder Arcanjo

O Libanês

Sotaque que trazia um halo do Oriente. Sempre pelos cantos, em busca das novidades nos botecos da vila. Soltava a voz e o corpo tão somente quando a dança surgia. Saía do tom, preferindo palavras e gestos que lembravam as festas de seu Líbano.

Veio para o Brasil em busca de venturas, mas nunca deixava de procurar a estrela do Oriente. Morreu sozinho numa noite de sexta, noite escura com apenas uma estrela solitária no céu da vila. Todos rezaram contritos pelo libanês dançador.

***

O mundo de Bartleby

Este dinheiro é seu?

Prefiro não responder.

Você conhece este contraventor?

Prefiro não responder.

Você acha certo um parlamentar envolver-se em um esquema de corrupção?

Prefiro não responder.

...

Na tribuna, a sentença:

Prefiro a prisão para ele.

***

O reformador

Na tribuna, vozeirão tonitruante, arma contra os “velhos modos”. Na rua, retórica empreendedora, propostas para um novo tempo.

Às covas a tradição e as velhas práticas! Que venha o futuro.

No altar das horas, a defesa intransigente da tecnologia e da liberalização dos costumes. Nos olhos rutilantes, a visão messiânica de um reformador geral.

Ao chegar ao lar: pijama de flanela, chinelo de rabicho, café coado, pão de forno e rádio de pilha. Antes de dormir, família reunida, a acalorada ladainha, vetusto sermão contra a liberalidade do mundo.


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