segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Conversando com Clauder Arcanjo


Blog do Carlos Santos

Breve biografia:

Antonio Clauder Alves Arcanjo (Clauder Arcanjo), nascido em Santana do Acaraú-CE aos 3 de março de 1963, é engenheiro, professor, contista, poeta, cronista, resenhista literário e colaborador de sites, revistas e jornais de várias partes do País.

A reunião de contos, intitulada Licânia, marcou a sua estreia em 2007. Lápis nas veias (minicontos) foi a segunda obra, lançada em 2009. Novenário de espinhos, seu primeiro livro de poemas, foi lançado em maio último.

Clauder Arcanjo tem obras inéditas nos gêneros: crônica (Uma garça no asfalto), romance (Terras de Federardo) e resenhas literárias.

Blog do Carlos Santos - Professor, presidente do Instituto Cultural do Oeste Potiguar (ICOP), apresentador de programa de TV (Pedagogia da Gestão, pela TV Cabo Mossoró-TCM), escritor, pai, esposo, engenheiro da Petrobras com atuação numa plataforma marítima (Macaé-RJ), cronista semanal dos jornais O Mossoroense e Gazeta do Oeste, colaborador em vários veículos literários, como é possível conciliar tudo isso sem deixar nada pelo caminho ou ser apenas razoável?

Clauder Arcanjo – (Risos) Bondade sua, Carlos, deixo (quem não o faz?) muita coisa pelo meio do caminho. O mais, se há algum segredo, é praticar, diuturnamente, o ofício da humildade e da obstinação. Obstinação banhada pelos ensinamentos do mestre Fernando Pessoa, na pele de Ricardo Reis, que muito bem nos alertou em um dos seus poemas:

Para ser grande, sê inteiro: nada

Teu exagera ou exclui.

Sê todo em cada coisa. Põe quanto és

No mínimo que fazes.

Assim em cada lago a lua toda

Brilha, porque alta vive.

BCS - Temos um museu em processo de desmanche há mais de dez anos; a biblioteca do jornalista Dorian Jorge Freire foi desprezada pelos poderes públicos; o escritor premiado Marcos Ferreira não conseguiu uma passagem aérea para receber premiação fora do Estado; uma célula cultural incomum como o "Sêbado" (sebo que reúne várias manifestações culturais, sempre aos sábados, em Mossoró) praticamente fechou. A iniciativa privada não desperta para o valor e importância da cultura. É possível fazer cultura mesmo assim, em Mossoró?

Clauder Arcanjo – A cultura é campo para abnegados, Carlos Santos. Homens e mulheres beirando a sandice. Nada nos será dado, quase tudo nos será negado, as portas obstacularizarão os passos dos tíbios, o medo nos será ofertado de bandeja, e a cooptação flanará por entre os nossos... Contudo, apesar de tudo e de todos, as nossas trombetas ecoarão. E, onde houver um de nós, tenho certeza, o canto melífluo da cultura ricocheteará por entre os campos, palácios e favelas. De esguelha, alguém nos ouve, e, ao nos ouvir, resistirá e (con)viverá. Tenho fé em Deus, e nesses benditos ensandecidos.

BCS - No Rio Grande do Norte, a Fundação José Augusto saiu bastante criticada da era "Wilma de Faria", apesar de algumas iniciativas louváveis. É mais lembrada pelo "Folioduto", escândalo em contratação de bandas. Agora o novo governo Rosalba Ciarlini (DEM) cria uma Secretaria Extraordinária da Cultura, mas mantém funcionando a própria Fundação José Augusto. O que falta para que tenhamos uma política cultural estadual realmente eficaz e que alcance os rincões do RN?

Clauder Arcanjo – Em primeiro lugar, a cultura é caso de segurança nacional. Explico. Quem usurpa a nossa cultura invade, não os nossos limites territoriais, porém, o que é pior, apropria-se de nosso maior patrimônio: os nossos bens culturais. E, sem cultura própria, não teremos identidade. Sem identidade, faço questão de propagar aos quatro ventos, seremos fantasmas de nós mesmos. A cultura é a alma de um povo.

BCS - Artistas em geral reclamam das leis de incentivo à cultura. Muitos a vêem como um "falso rubi" ou "ouro de tolo", pois só facilita a vida para captação de recursos para grandes nomes. Os iniciantes, emergentes ou desconhecidos penam com o crédito que raramente é transformado em recurso real. Qual a saída?

Clauder Arcanjo – Transparência, transparência, transparência... Eis a melhor solução. No mais, é a classe artística se unir, melhorar cada vez mais nossa performance, e participar. Por conseguinte, agir mais e chorar menos.

BCS - O senhor administra o selo editorial "Sarau das Letras", que abre espaço à publicação de autores e gêneros variados. Para um autor ainda sem oportunidade de publicação do seu livro, da poesia ao conto, como sua editora pode ajudar e como ele tem feito para isso?

Clauder Arcanjo – O selo Sarau das Letras, sonho-realidade de Clauder Arcanjo e David Leite, é uma opção a mais para os escritores locais e regionais. Uma singela opção, diga-se de passagem. Todavia é sempre bom termos opções, a sua falta revela-se danosa em todos os meios. O escritor que tiver pretensão de publicar pela Sarau deve nos procurar; analisaremos, então, o seu projeto, aconselharemos, pois não abrimos mão da qualidade e do bom projeto gráfico, e funcionaremos com uma assessoria editorial; desde a concepção da capa, do miolo, da gramatura do papel, da disposição dos textos...

BCS - Há poucas semanas o senhor lançou seu primeiro livro de poesia, "Novenário de espinhos", com ótimo conteúdo e padrão editorial. O que, afinal, é uma marca de seus trabalhos. Antes já publicara "Licânia" (contos) e "Lápis nas veias" (minicontos). O que cada "filho" tem de especial, para merecer o afago, e em que gênero o escritor melhor se destaca, numa opinião pessoal?

Clauder Arcanjo – Obrigado pelas palavras de incentivo, Carlos. Creio que um livro deve procurar a utopia da beleza e da excelência. Buscando, e perseguindo, tal utopia, acredito, o livro se travestirá em pérola editorial. Quem não gosta de folhear um belo livro? Não há fetiche mais apaixonante para mim! (risos...). Quanto à resposta a sua última pergunta – em qual gênero eu melhor me destaco? -, sinceramente não serei louco em responder. O poeta, o contista, o minicontista, o resenhista... enfim, todos os escritores que há em mim são extremamente ciumentos. Deixemos todos em paz, não sou louco de procurar a fúria desses titãs.

BCS - Aristóteles afirmava que "a poesia é algo de mais filosófico e sério do que a história, pois a poesia nos fala daquilo que é universal, e a história do que é particular". Desde a "Ilíada" de Homero tem sido assim? O senhor concorda ou acha que todo poeta pode ser "um fingidor"?

Clauder Arcanjo – (Risos...) Fiquemos por aqui. Já é hora de me calar, pois nem me arvoro filósofo nem poeta para me meter nessa seara tão repleta de espinhos (Novenário de espinhos?). Tenho medo de certas descobertas travestidas de verdades, o plasmar da dúvida me mantém no caminho da humildade. Não estou sendo fingidor, creia-me. (mais risos).

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