segunda-feira, 26 de setembro de 2011

E Acácio conheceu Licânia (Parte II)


Clauder Arcanjo

Na crônica do domingo passado, na qual relatava o meu reencontro com o Companheiro Acácio e a sua decisão de conhecer Licânia, encerrei minha página com: “Deixamos Mossoró em direção ao Ceará, ao som de Almir Satter: ‘Ando devagar, porque já tive pressa/ Levo este sorriso, porque já chorei demais...’”

— Para de delongas, e descreve nossa viagem, caríssimo escrevinhador de província!

— Puxa, Acácio, você está me saindo um rematado rabugento.

Pois bem, deixemos as rabugices acacianas do lado de fora, e voltemos à estrada.

O caminho de volta é sempre mais florido, as léguas não nos doem às costas, o vento tem ares mais sadio, os pássaros nos parecem mais festivos...

— A coisa está caminhando, a léguas ligeiras, para o rocambolesco. Para a mais pura, e enfadonha, crônica rocambolesca.

— ...

“Não me deixarei perturbar por Acácio. Não me deixarei. Juro, não me deixarei!”

Em coisa de pouco mais de meia hora, estávamos em solo alencarino. Entramos no município de Aracati, e fui logo saudando a terra de Adolfo Caminha.

— Aracati, berço de Caminha!...

— Aposto que nunca leste um livro de Adolfo Caminha! Pelo menos não do jeito que advogo que todo clássico deva ser lido.

— ...

“Não me deixarei perturbar por Acácio. Não me deixarei. Juro, não me deixarei. Pelo amor de Deus, por Nossa Senhora, e por São Benedito!...”

Resolvi fechar a boca, e tocar fundo rumo a Beberibe. Quem sabe o ar praieiro não o curaria do mal que aflige dez em cada dez intelectuais: a ranzinzice.

Confesso que não aguentei o silêncio posto entre nós. De início, plantei um naco de assovio. Notas soltas, despretensiosas. Liguei-as, então, como a imitar uma canção de infância.

Como não houve reação do indigitado, avancei alguns passos de coragem. Nos lábios, o solfejo de longínqua canção juvenil. Daquelas dos bailes de julho no Alcione Clube, na minha terra querida.

De olhos fechados, Acácio parecia entregar-se à modorra da viagem.

“Quem sabe o meu canto não lhe caiu nos ouvidos como uma espécie de acalanto!?...”

— Cantas pior do que escreves. Sabias?

“Não me deixarei perturbar por Acácio. Não me deixarei. Juro, não me deixarei. Pelo amor de Deus, por Nossa Senhora, e por São Benedito!... Aliás, estes santos são poucos. Recrutarei São Francisco e São Sebastião. Pelo amor de Deus!...”

Um grito quis assomar-me aos lábios rijos. Passei as mãos nos cabelos ralos, respirei fundo e pisei firme no acelerador. Nunca cheguei tão rápido a Fortaleza, capital do Ceará. Todavia, infelizmente, não me dei conta de que os pardais me encheriam as correspondências de avisos de multas de trânsito. Motivo: excesso de velocidade.

— Diriges pior do que escreves. Sabias?

— ...

Fechemos o meu relato por aqui. O que se seguiu às reticências foram coisas impublicáveis.

O que interessa, no entanto, é que já estávamos em Fortaleza, descansaríamos na casa de meus sogros para, no dia seguinte, logo cedo, seguirmos viagem. Licânia-Santana nos esperava, ansiosa.

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