segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Se for costume...

Clauder Arcanjo

Se for costume o acalanto da solidão,

Acostumado me encontro.

Se for costume o assanhado da pulsão,

Acostumado me encontrei.

E, se for costume (costume de não ter jeito),

O malsinado gosto pela vã ilusão...

Acostumado sempre; eu me (re)encontrarei.

Contos para dez de julho


Clauder Arcanjo

Persuasão

Bigode espanado de raiva, calça com cós alto, pisada dura de decisão. Em passos largos para a casa do devedor. Atraso de longos meses. Por precaução, o revólver do vizinho, emprestado, para qualquer argumentação adicional. “Hoje, trago meus cobres!”

Todos à espera. Longas horas.

Ao cair da tarde, à sombra do poente, uma figura cabisbaixa. Antes das perguntas, o desabafo:

— Comprou-me o revólver fiado, preço de ocasião!

***

Pesadelo

Pânico, vale escuro, gritos arrepiantes, vultos endemoniados, luta renhida, espada e fogo ameaçadores, fuga em desespero e... a queda num precipício de pedras pontiagudas. Frio no estômago.

Antes do choque fatal, o acordar em sobressalto. Suor porejando na testa lívida.

Sentado, suspiro de alívio, a correr os olhos bem abertos: o catre velho e fedorento, a esposa desdentada e birrenta, o casebre em frangalhos, o urinol cheio e surrado, o ronco apavorante da sogra na esteira...

Saudades do pesadelo.

***

Pindaíba

Antes, filé, mesa posta. Hoje, feijão de favor, e olhe lá. No passado, linho branco, jeito de bem-sucedido. No corpo, agora, um morim puído, remendado, jeito de bem lascado.

Lembrança do cigarro long size, fino, com piteira. Na fumaça do pé-duro, pitado avaramente.

Na pracinha, os olhos das mocinhas, na retreta daquele tempo. Na manhã de hoje, o silêncio de desprezo dos amigos, sono na sarjeta.

A migração da abastança para a pindaíba. Em dez anos. Num piscar de olhos do destino.

E Acácio conheceu Licânia (Parte III)


Clauder Arcanjo

Há duas semanas, Acácio e eu deixamos Mossoró. Rumo a Licânia.

Levei uma crônica para tirar Acácio de Mossoró, e outra (coisas da idiossincrasia acaciana) na nossa viagem até Fortaleza.

Pois bem, restabelecido do relato anterior, continuemos. Como restabelecido?!...

Você não conhece Companheiro Acácio, dileto e inocente leitor desta página dominical! Acácio, quando quer e bem entende (e quase sempre quer e pretende), põe (e dispõe) qualquer mortal com os nervos na antessala da loucura. Estado que, infelizmente, adentrei em solo alencarino.

Chegamos a Fortaleza e cuidei de recorrer aos olhos de minha musa, Biscuí. Ela não pronunciou nenhuma palavra. Não foi preciso; simplesmente pôs toalha branca e sabonete nas minhas mãos e apontou-me o caminho do banho. Isso sem não antes dar-me um copo de suco de maracujá. Copo duplo.

Sorvi-o, com as mãos trê-mu-las.

— Minha senhora, seu esposo dirige pior do que escreve. A senhora já sabia?

Mal fechou os lábios, Acácio sentiu a fúria de Luzia. Na forma de um raio de recriminação que lhe fuzilou a face macilenta. Energia de mil megatons.

Sem jeito e sem argumento, cuidou de se retirar. Quis saber onde ficava a casa de banho, e tomou uma ducha demorada.

Hora depois, Acácio adentrou à sala, dando de cara com todos sentados à mesa. Sogro, sogra, meus filhos mais velhos, e Luzia. Com seu olhar de loba ferida.

Raras vezes jantei envolto em tamanho silêncio. Silêncio constrangedor, que fique bem claro, não nego. Mas como eu precisava daquela paz modorrenta para recuperar-me de uma viagem tão torturante!

“E terei que ter forças para conduzi-lo por mais longas léguas até Santana.”

— Senhora Luzia, permita-me: a senhora cozinha melhor de que seu marido verseja. A senhora já sabia?

A emenda ficou pior do que o soneto.

Em fração de nanosegundo, Biscuí pôs em Acácio seus olhos em brasa, a mastigar, por entre os lábios rijos:

— Tudo aqui servido foi arte de minha mãe, senhor.

Luzia deu as costas, e tomou o rumo da cozinha. Não sem bocejar um dialeto imperceptível aos linguistas de plantão, no entanto plenamente traduzível pelo gestual que o acompanhava.

Um fosso de silêncio se interpôs entre Companheiro Acácio e minha musa inspiradora.

É claro que, na maioria das vezes, eu fiquei ao lado de Acácio em suas lutas quixotescas, em seus longos embates policarpo-quaresmais, em suas (por mais descabidas que fossem) filosofices provincianas... Mas ficar contra minha Biscuí!?... Isso nem pensar.

Acácio viu-se em papos de aranha. Sem saída, fechou-se em copas. Deitou-se cedo, fingindo uma dor de cabeça inverossímil.

...

No outro dia, antes do sol por os olhos no horizonte, fui desperto por risadas frouxas e dadivosas.

Abri a porta do quarto e, ainda tonto de sono, encontrei Companheiro, em mangas de camisa, a rir desbragadamente das histórias infantis contadas por Helena, nossa cozinheira.

— Acácio?!...

— Meu querido amigo, sua servidora revelou-se-me uma boníssima contadora de causos. Tão boa, creia-me, quanto você em seus contos de Licânia.

...

Contos para sete de agosto


Clauder Arcanjo

Telha-vã

Gota a gota. O soro na veia. Na lembrança, as goteiras da velha casa. Grande e de telhas-vãs. Encolhido na rede, de olho no alto da cumeeira. A chuva e o seu barulho, viço da invernada. O susto do relâmpago, luz na noite do sertão.

Agora, essas gotículas de soro. No leito, de olho no azul e branco das paredes do hospital. Teto baixo, forro de gesso. Saudade gotejante. O relâmpago na vista trêmula, medo do esmaecimento de uma vida vã.

***

Tenor de velório

Noite sem morcegos e corujas. Igreja com esquife. Um corpo e sua meia dúzia de conhecidos. Gente pouca, reza fraca. Ave-marias em murmúrio. Parcas lágrimas. Vigília longa.

De repente, a beata e seu cântico. Desafino geral. Constrangimento.

Novo início. A tentativa de limpeza das gargantas.

Então, o surgir de algo limpo e forte. A curiosidade. Um bêbado, com ares de tenor. Um gregoriano. Única glória do humilde velório.

***

Terral

Areal medonho, praia sem pássaros, algas nas pedras. Uma lua matreira por detrás dos morrotes. Um sol imaginário.

Em tudo, um silêncio profundo, encordoado com o marulho queixoso das vagas contidas.

Deitada na rede, uma moça suspirosa. Um sonho de princesa nos olhos fundos de praieira. Único terral à beira-mar.

E Acácio conheceu Licânia (Parte II)


Clauder Arcanjo

Na crônica do domingo passado, na qual relatava o meu reencontro com o Companheiro Acácio e a sua decisão de conhecer Licânia, encerrei minha página com: “Deixamos Mossoró em direção ao Ceará, ao som de Almir Satter: ‘Ando devagar, porque já tive pressa/ Levo este sorriso, porque já chorei demais...’”

— Para de delongas, e descreve nossa viagem, caríssimo escrevinhador de província!

— Puxa, Acácio, você está me saindo um rematado rabugento.

Pois bem, deixemos as rabugices acacianas do lado de fora, e voltemos à estrada.

O caminho de volta é sempre mais florido, as léguas não nos doem às costas, o vento tem ares mais sadio, os pássaros nos parecem mais festivos...

— A coisa está caminhando, a léguas ligeiras, para o rocambolesco. Para a mais pura, e enfadonha, crônica rocambolesca.

— ...

“Não me deixarei perturbar por Acácio. Não me deixarei. Juro, não me deixarei!”

Em coisa de pouco mais de meia hora, estávamos em solo alencarino. Entramos no município de Aracati, e fui logo saudando a terra de Adolfo Caminha.

— Aracati, berço de Caminha!...

— Aposto que nunca leste um livro de Adolfo Caminha! Pelo menos não do jeito que advogo que todo clássico deva ser lido.

— ...

“Não me deixarei perturbar por Acácio. Não me deixarei. Juro, não me deixarei. Pelo amor de Deus, por Nossa Senhora, e por São Benedito!...”

Resolvi fechar a boca, e tocar fundo rumo a Beberibe. Quem sabe o ar praieiro não o curaria do mal que aflige dez em cada dez intelectuais: a ranzinzice.

Confesso que não aguentei o silêncio posto entre nós. De início, plantei um naco de assovio. Notas soltas, despretensiosas. Liguei-as, então, como a imitar uma canção de infância.

Como não houve reação do indigitado, avancei alguns passos de coragem. Nos lábios, o solfejo de longínqua canção juvenil. Daquelas dos bailes de julho no Alcione Clube, na minha terra querida.

De olhos fechados, Acácio parecia entregar-se à modorra da viagem.

“Quem sabe o meu canto não lhe caiu nos ouvidos como uma espécie de acalanto!?...”

— Cantas pior do que escreves. Sabias?

“Não me deixarei perturbar por Acácio. Não me deixarei. Juro, não me deixarei. Pelo amor de Deus, por Nossa Senhora, e por São Benedito!... Aliás, estes santos são poucos. Recrutarei São Francisco e São Sebastião. Pelo amor de Deus!...”

Um grito quis assomar-me aos lábios rijos. Passei as mãos nos cabelos ralos, respirei fundo e pisei firme no acelerador. Nunca cheguei tão rápido a Fortaleza, capital do Ceará. Todavia, infelizmente, não me dei conta de que os pardais me encheriam as correspondências de avisos de multas de trânsito. Motivo: excesso de velocidade.

— Diriges pior do que escreves. Sabias?

— ...

Fechemos o meu relato por aqui. O que se seguiu às reticências foram coisas impublicáveis.

O que interessa, no entanto, é que já estávamos em Fortaleza, descansaríamos na casa de meus sogros para, no dia seguinte, logo cedo, seguirmos viagem. Licânia-Santana nos esperava, ansiosa.

Contos para trinta e um de julho

Clauder Arcanjo

Sova

A arraia e suas cores. A montagem levou horas, quase o sábado. Papel, grude, fios, cera e paciência.

Irineu pôs os olhos no meu papagaio. Queria-o. Disse-lhe que fizesse o seu. Respondeu-me com um olhar de intriga.

Quando ganhei o campo, senti, nas minhas costas, a pipa, o bafo de meu padrasto e a risadinha traquina de Irineu.

A delação doeu mais do que a sova.

***

Sus

Sempre amigo das expressões antigas, revestidas com a pátina dos anos, esquecidas pelos intelectuais ligeiros. “Feito nas entrepernas. Discípulos da fugacidade, inimigos da gramática e do vernáculo!” esbravejava nas ruas.

Certa vez, ouvindo um discurso improvisado, repleto de respeito à língua pátria, levantou-se, pediu um aparte e disse: “Eia! Sus!...”

O silêncio da ignorância. Escuro e profundo.

Um dos médicos presentes, profissional de ilibada sapiência, não perdeu tempo, conduziu-o ao plantão do Sistema Único de Saúde (SUS) da municipalidade.

Antes de ser jogado na enfermaria, a tentativa duma explicação: “Sus é uma interjeição, malta de muares! Sinonímia de ‘Avante!’”

Novo silêncio. Desta feita, com sua explicação, a transferência para o hospício. No prontuário: “Caso grave”.

***

Tapera

Mato nas frestas. Paredes velhas. Abandono nas bicas e goteiras.

À noite, o pio da coruja, chamamento de João e Lúcia, em sono de espera. O salto da rede, o deitar no estrado de correias, rangido de couro, carcomido pelo uso.

A mistura dos dois, enfiados, um dentro do outro. Os uivos de Lúcia; o prazer, madrugada inteiriça, de João.

Raiar do dia, o sol pelas frinchas... A pobreza e dois corpos suados como mobília da tapera.

E Acácio conheceu Licânia (Parte I)


Clauder Arcanjo

Todos vocês, caros leitores, bem sabem a estima que tenho ao Companheiro Acácio. Sim, eu sei de suas idiossincrasias, até mesmo de sua porção de casmurrice. Mas, atire a primeira pedra, aquele que não as tem. A amizade, sempre soube, traz, em seu bojo, um manto espesso que encobre as faltas de nossos amigos e ressalta o brilho do seu quinhão de virtudes.

Pois bem, deixemos de delongas (mal que acomete dez em cada dez cronistas) e sigamos direto ao assunto. Estou aqui para revelhar-lhes um, para mim, grande feito: consegui, não nego que com suor e lágrimas (não foi preciso sangue), levar Acácio ao meu torrão natal. Sim, à minha decantada Licânia; para os habitantes de lá, a cidade de Santana do Acaraú, na região norte cearense.

De início, as argumentações contra a viagem.

— São mais de quinhentos quilômetros de Mossoró até Licânia! Meus ossos e minha paciência não suportarão tão longa odisseia.

— Companheiro, nada de drama! Levarei uns discos que prometemos ouvir juntos, desde o ano passado, bem como recitaremos os poetas que há tempo não os recitamos. Isso tornará Licânia um destino bem próximo.

— Por precaução, cite as músicas e os poemas que encurtarão tais léguas.

Confesso que não gosto quando a desconfiança assoma à língua de ninguém. Em especial, a de Acácio, que sempre foi um bastião da boa fé e do espírito puro; quando isso se dá, é um forte sinal de que a falta de confiança já grassa solta entre os homens e mulheres de nossa terra. Tomado por um acesso de fúria, despejei em seu colo:

— Ou confia na minha palavra, Acácio, ou não será digno de me acompanhar até a esquina mais próxima!

Fechei o cenho, e dei as costas, com a intenção de me retirar.

— Calma, calma!... — interrompeu os meus passos. Dê-me uma noite para pensar. Aviso-lhe que não quero saber de ouvir as cretinices que assolam as emissoras, daqui e de alhures: agressões contra o bom gosto, achincalhe contra as damas, alcunhando-as de raparigas. Tenha a santa paciência!...

Concordei com o prazo proposto, até porque a minha intenção era viajar somente na tarde do dia seguinte.

Chegando a casa, cuidei de providenciar a minha seleção poética e musical. Numa pequena caixa de papelão, dispus os amigos redutores de quilometragem, artistas e gênios que sempre me fizeram esquecer o tempo: Chico Buarque, Francis e Olívia Hime, The Beatles, Ednardo, Marisa Monte, Bob Dylan, Djavan, Marisa... E, no campo literário: Drummond, Cecília, Clarice Lispector (e sua prosa poética), João Cabral de Melo, Eugênio Montale... “Calma, velho Clauder, vocês não darão a volta a mundo! Serão apenas pouco mais de quinhentos quilômetros!...”; a voz da prudência cuidou de me conter.

Na manhã seguinte, manhã invernal atípica, em pleno julho, a ligação telefônica.

— Já estou de malas prontas. Vou logo lhe avisando, encararei tudo como um retiro para o espírito. Ando deveras cansado do burburinho de nossa cidade.

Não fiz festa. Conheço bem o velho companheiro de luta, nunca foi amigo dos rompantes nem dos sinais hiperbólicos de efusividade.

Início da tarde, buzinei frente ao seu lar. Quando menos espero, sai, à porta, o velho Acácio; impecavelmente vestido, e com um panamá por sobre a cabeça já tomada pela precoce calvície. Ao perceber o meu espanto, declarou, tonitruante:

— Se vamos visitar a sua província, companheiro, terra de Padre Antônio Tomás e de José Alcides Pinto, o linho é sempre o tecido mais adequado.

Entrou no carro, ajustou o cinto, e pigarreou. Como a me dizer: Vamos!

Eram três da tarde, os pingos de uma chuva renitente lavavam o céu da cidade, e eu fui invadido pela saudade dos meus. “Seriam aquelas gotas d’água lágrimas daqueles que já se foram?”

Não quis dividir tal indagação com o Companheiro. Não seria, confesso, de bom tom, provocar o bom e velho Acácio (e seu belicoso agnosticismo), logo no início de nossa viagem.

Deixamos Mossoró em direção ao Ceará, ao som de Almir Satter: “Ando devagar, porque já tive pressa/ Levo este sorriso, porque já chorei demais...”

Contos para vinte e quatro de julho


Clauder Arcanjo

Sacrifício

Ao acordar, a despensa vazia e o ronco da fome. Ao sair à rua, vagas inexistentes e exigências crescentes. Ao chegar, tonto e cansado, a certeza de uma noite longa e sem a esmola do sono.

No outro dia, o sacrifício à soleira da porta, a esperá-lo, insone e determinado.

***

Saudade

Um manuscrito sobre a mesa. No centro da casa recém-alugada. Páginas já marcadas pelos anos e pelos dedos da leitura. Aberto, com um peso sobre ele. Uma estatueta de Buda. O vento tentava assanhá-lo, mas era contido.

Pus meus olhos curiosos. Na parte aberta, uma história falando de juventude, lembrei-me da minha. Avancei. Logo adiante, desventuras da maturidade, relatos nos quais me vi. Voltei. Ao início. Neste momento, já sentado e de óculos, capítulos da infância, espelho da minha meninice. Percebi que tinha epílogo, porém fechei o manuscrito, contentei-me com as lágrimas da saudade.

***

Sexta-feira treze

Sexta-feira, treze. Crendices penduradas no varal de todas as bocas. Gatos pretos presos, escadas amarradas, pés de coelho por todos os lados.

Manoel com um dia contido, sem riscos. Quando a noite se apresentou, ele a cuidar de dormir para encurtar o dia.

Marieta, a amante, a esperá-lo em uma mesa de bar, atribuindo tudo a outra saia. Antes da meia-noite, ela, revoltada, deslizou para os braços de um outro qualquer. Um jogo de sexo que espantou os gatos, destroçou a escada do pequeno aposento e eriçou o casal de coelhos que ainda restava na casa.

Azar de Manoel!

Cruviana


Clauder Arcanjo

Do caderno de Netarino: “Onde houver um aglomerado humano, haverá uma fábrica de mitos”.

(François Silvestre de Alencar, em Esmeralda: Crime no Santuário do Lima)

Primeira estação

A noite mal pousara suas garras na mataria, quando se ouviu um frêmito por entre os marmeleiros.

Os bichos correram desembestados. Aqueles que tinham locas cuidaram de se afundar chão abaixo, os que dispunham de outros esconderijos meteram a cara adentro.

A pequena casa de taipa, aparentemente vazia, viu-se sacudida, seguidas vezes, pela ventania maluca. “Cruz-credo! Cruz-credo!” As panelas de barro foram estilhaçadas, a moringa explodiu, os cabelos do telhado de palha foram assanhados...

No catre ao fundo, numa espécie de leito de morte, Zefinha, em cima do couro e dos ossos, ladeada por Jesus, Maria e José, sorriu e deu os braços para o invasor.

Segunda estação

Meses depois, numa rede fétida da pequena casa de taipa, um menino dividia os infortúnios da vida com Zefinha.

Ele viera ao mundo numa noite de muita ventania, daquelas que as tramelas não conseguiam segurar as bandas das portas e das janelas.

A partir de então, um uivo de bicho vento em cio cortava as oiças da pobre mulher. Ela se levantava, reforçava o calço das portas e janelas com estacas de sabiá, cobria o pequeno com nacos de pano, e assoviava, desajeitadamente, uma nesga de canção e reza.

— Vai, vai, vento dos diabos. Procura outra freguesia, e não me plante seu cruel destino...

Terceira estação

Quinze anos se passaram. O que fora menino revelou-se um forte caboclo: Bastião.

Disposto e determinado, rasgara o leito do rio seco em novas vazantes. Remendara as cercas de pau a pique, cuidara das criações e, todas elas, respondiam-lhe com balidos e crias sucessivas. Nos fins d’água, todo ano, a casinha ganhava um regalo. Rádio de pilha, novo candeeiro, guarda-roupa de três portas, jogo de cadeiras de palhinha, um oratório para a Virgem Maria, Sant’Anna, São Francisco e São Pedro...

E nem sinal daquele vento de outrora.

Quarta estação

Numa certa noite de sábado, o forró comia solto na casa de Dona Matilde. Meia légua à frente. Chão batido, sanfona, zabumba e triângulo. A cachaça fora servida sem tomar chegança. Os goles desciam goela abaixo num desespero só.

Com pouco, estavam todos zonzos; bêbados, mas firmes no forró. Bastião, indisposto, fingira beber. Bicava cada dose, e despejava o restante para o santo aos pés do juazeiro da frente da casa, a cabeça meio avoada.

À meia-noite, um estalido na mata calou sanfona, triângulo e zabumba. De repente, um vento fino e cortante, de arrepiar os cabelos da nuca, varria o alpendre da festa. Todos quedaram-se.

De início, Bastião imaginara-os embriagados, efeito da branquinha. O vento foi ganhando força e levantando a saia das caboclas, que, de olhos fechados, continuavam a dançar sem seus parceiros. Com as faces em brasa, passaram, então, a uivar como cachorras no cio. Com mais alguns minutos, candeeiros apagados, Bastião só ouvia o rasgar do vento e os gritos de gozo das cunhãs.

Com medo, Bastião enfiou-se na mata, desembestado no rumo das ventas.

...

Semanas depois, as caboclas, ubradas, foram todas conduzidas ao pé do altar para a comunhão do matrimônio.

...

Hoje, Bastião, como um pé de vento, corre as lonjuras do sertão a versejar histórias de alerta acerca de uma “ventania perigosa, a malsinada cruviana”.

— Vai, vai, vento dos diabos. Procura outra freguesia, e não me plante seu cruel destino...

Dão-lhe, ao máximo, os ouvidos da curiosidade e da troça e, como prêmio maior, a alcunha de poeta avoado e louco.

...

... Um frêmito na mata...

“Cruz-credo! Cruz-credo!”

A literatura cruviânica de Olga Savary


Por Clauder Arcanjo

Olga Savary. Por completo, Olga Augusta Maria Savary. Nascida em Belém, do Pará, aos 21 de maio de 1933, e criada no mundo. Autora das mais brasileiras e, por conseguinte, das mais universais de nossa literatura. “Brasileiríssima e amazônida”; ela faz sempre questão de frisar.

Quando, há alguns meses, pensamos na criação de um sítio na internet para abrigar os nossos contos, pensamos logo em Olga. Por quê? Porque Olga é polifônica; sua criação, em plena maturidade e saudada por uma miríade de prêmios, mantém o cheiro e o gosto de coisa sempre nova. Up-to-date! Novidadeira e virtualíssima, ela detém engenho e arte cruviânicos. Cruviânicos?!... Sim, caro leitor. Pois como poderíamos definir uma arte que arrepia os cabelos da mesmice, põe Eros no balcão da sensaboria dos dias, e dispõe do amálgama dos mitos e dos ritos universais na floresta imbricada, fechada e, quase sempre, apinhada de espertalhões — pretensos e falsos ícones — da nossa ficção contemporânea?

Como uma espécie de patronesse do nosso site, Savary monta na garupa de Éolo, deleta os maus-olhados, salva a beleza, e zipa no rumo da cumeeira das musas flamejantes. Filha única do engenheiro russo de ascendência francesa Bruno Savary e da desenhista e violonista Célia Nobre de Almeida Savary, Olga labora no campo do fantasticamente real, para inserir-nos nos céus líricos e lúdicos do realmente fantástico.

No mais, é um prazer (re)ler e se reconhecer em Olga.

Um aviso final: quando o vento cruviânico de Olga exibir-se no layout da sua tela, cuide de abrir todas as janelas e portas dos seus arquivos e se deixar invadir-contaminar pelo bendito vírus que vem do Norte. Ao final, você será computado, e selvagemente salvo, por uma medusa-criadora: poeta, contista, romancista, crítica literária e de artes, ensaísta, tradutora e jornalista. Um ser(?) que adora abrir veredas na floresta cultural da memória. Olga Savary: “mãe literária” para nós, curumins da contística. Anima animalis. Natureza viva, travestida de amazônida guerreira, humana e transbordante de tesão criadora. Blogueira de paixão e desvario, a flanar na campina esplêndida e verdejante da sublime literatura. Hélas! Hélas!...

Contos para dezessete de julho

Clauder Arcanjo

Rabo de palha

Rio de águas barrentas, a subir rápido. Cidade em pânico, medo que o açude nas cabeceiras não suportasse a força do inverno.

— Vixe Maria. Ai, meu Deus!...

As beatas oravam cada vez mais, e quem nunca rezou passou a rezar.

Em meio a tudo, Maria a lavar sua trouxa de roupa, impassível. A cantar uma modinha marota, apesar da gagueira incurável. “Quem te en...sinou a na...dar, ma...rinhei...ro!”

José, de folga do caminhão, metera-se na pinga. Alterado, deu para profetizar calamidades, desejoso de desgraça. Ao ver Maria, desembuchou:

— Ah, se a tromba d’água viesse, mulher. Seria muito bom, mataria afogado todos os cornos desta terra.

Maria arrematou, sem levantar os olhos do vestido que lavava:

— Jo...sé, Jo...sé! Tu num sa...be nadar, José!

***

Rebotalho

O cozido magro na trempe, migalhas da mesa anterior. Peles de fumo mascadas na boca vazia, último resto de prazer. Olho vago por cima do ombro seco. Grunhido e malquerença muda. Um atrás da outra.

Dias pequenos e inúteis, arrastado de horas. A palidez dos sonhos, o vazio do agora. Refugo, ralé em vida. No dobrar dos anos, a marca da alcunha: Rebotalho!

***

Rede de balanço

Café preto e pão dormido. O mastigar calado, bocas mecânicas.

O recolhimento dos pais, ronco fundo no catre velho do quarto. A casa e o vazio da noite.

Zezé a correr para a varanda da casa. Lá, a arrumação da rede nos armadores altos, com a ajuda dos tamboretes velhos. O início do balanço, o rangido.

Em pouco tempo, a rede de balanço a levar o menino para outros mundos. Puxado pelos cantos, pelas imagens, mas, principalmente, pelos sonhos.

A manhã flagrava uma poça de mijo no chão de tijolos do alpendre, única marca da viagem da noite anterior. Atribuíam-na às artes do carneiro enjeitado.

Litania provinciana

Clauder Arcanjo

Há mais de mim em tuas ruas

Há muito de mim em teus becos

Há um pouco de mim em teus fantasmas.

Há um caco de mim em tua história

Há um naco de mim em tua memória...

Há um quê de ti em minha pretensa glória.

Ah, Licânia!... Quando escrevo, prescrevo

A receita para minha sobrevivência. Pinoia.

Meu beijo com a madrugada

Clauder Arcanjo


Quando a madrugada, verde,

Caiu nos meus lençóis, claro,

Eu encontrava-me, há tempo,

De caso com o ocaso. Haja gris!

A madrugada, terrível carpideira,

Chamou o Sol, que amasiou raios em mim...

A fazer pouco caso do meu beijo com a madrugada.

O reverso do meu silêncio


Clauder Arcanjo

O reverso do meu silêncio

Não é a raiva, nem o grito.

Não, muito menos do que isso.

O reverso do meu silêncio

Não é a explosão, nem o quisto.

Não, muito menos do que isso.

O reverso do meu silêncio

Não é a bravura, nem o explosivo.

Não, muito menos do que isso.

...

O reverso do meu silêncio

Está na palavra amarga, e não proferida,

Que me fere e rasga ao não ser dita,

Mais cruel e afiada do que uma faca,

Uma lâmina, pontiaguda adaga...

Ou, insisto, algo mais punhal do que isso.

Louçanias


Clauder Arcanjo

Um pires de tristeza;

Sobre ele, uma xícara

A transbordar o chá

Da espera, da longa espera.

Ao canto, uma jarra cheia

De noite velha, adormecida,

Carcomida pelos dias de vidro.

Bem ao fundo, lá no fundo, eu.

(Melhor, o que restou de mim.)

Triste, transbordante, a esperar,

Velho-carcomido, o fundo do fundo de mim.

Travo do silente


Clauder Arcanjo


Hoje eu me calei,

E o calar me castrou

Os lábios, emudecendo

Minha crente alma.

E eu, calado, a sentir

O látego da omissão.

Hoje calei. Bem sei

Que a omissão me jogou

Ao chão dos covardes;

Com a boca ácida e podre,

Com os dentes a rilhar.

Então...

Engoli a gosma do meu silêncio,

E... acordei com a teima entre os lençóis.

Durante...


Clauder Arcanjo


Durante o alvorecer,

O cheiro da madrugada;

Saudade do sono e dos lençóis.

Durante a manhã,

O sabor da rubra alvorada;

Nostalgia do café e da boiada.

Durante a tarde,

O hálito do aboio no crepúsculo;

Ausência dorida da matinada.

Durante a noite, frialdade,

O tato quente da tarde;

A carência do antes...

Dura e infinda verdade.

Antes...


Clauder Arcanjo


Antes do começo,

O silêncio do compasso.

Antes do passo,

O fremir do músculo lasso.

Antes da estrada,

O estrado que embaraça.

E, bem antes do antes,

O primórdio do anterior. Menos nada.

Depois...

Clauder Arcanjo


Depois do basta,

O sentir que arrasta.

Depois do cala,

O brado que desbarata.

Depois do puxa,

O pulsar que empurra.

E, depois do nada,

O tudo do nada. Mais nada.

Entre...


Clauder Arcanjo

Entre o passado glorioso

e o agora pantanoso,

ficarei bem aqui,

com uma glosa na garganta,

com um poema sem musa,

com minhas mãos frias.

Entre o presente agradável

e a casimira da utopia,

Permanecerei aqui,

com esta casmurrice nonsense,

com um diálogo abortado,

com minhas mãos pensas.

Entre o futuro promissor e

a agudez da (des)esperança do instante,

eu apanharei logo aqui:

futuro-presente-passado.

Sem registros, nem saudades.

Judiação

Clauder Arcanjo


Quando dei por mim,

Flagrei-me deveras cativo.

Quando dei por ti,

O cativeiro passei a abençoar.

Ó bendita e santa judiação!

Discurso de posse na AMOL (27/05/2011) (Parte II)


por Clauder Arcanjo

Milton Pedrosa e Passos Cegos, o romance de Mossoró

“Ridículo, ouvir alguém alardear honestidade, como se merecesse

uma medalha por isso. Parece até coisa que lhe pesa muito.

Quando ela fala, a gente tem impressão de que a

honestidade é um fardo muito difícil de carregar.

Talvez algumas o façam por burrice ou coisa pior.”

(Milton Pedrosa, em Passos Cegos)

(Continuação do domingo anterior)

Ladislau na busca do futuro perdido

A realidade dura e opressora dos homens do barracão, os cassacos espoliados. “Tudo fornecido até certo limite, fixado de antemão. O dinheiro não circulava ali. Existia o ‘vale’, e esse pedaço de papel representava a paga do trabalho da semana”.

Os trabalhadores a cuspirem “pedaços de frases, desiludidos e pacientes”. “Os diálogos cruzavam-se, os pedaços de conversa desenhavam no espaço, como se fossem traços, a miséria coletiva da massa desamparada, que não era dona de suas próprias forças”. O romance, muitas vezes, assume um viés panfletário, e só não descamba para a mediocridade artística, porque o autor é um esmerado narrador, e, quase sempre, emprega o seu texto apenas a serviço do brilho seco e limpo da sua prosa. Quase um Graciliano potiguar, por que não? “Os homens aos lotes, em turma... facilmente substituídos, e o ramerrão continuava, ininterrupto”.

No capítulo ambientado no ataque de Lampião a Mossoró, em 1927, a arguta crítica aos poderosos de então: “A noite veio. Os trens passavam abarrotados de gente na fuga para mais longe, para Grossos e Areia Branca. Muitos, porém, não pensavam em permanecer por tão perto. Banqueiros e grandes comerciantes de Mossoró planejavam embarcar num navio ancorado no porto, ou em qualquer barco, e ficar no meio do mar, até que a sorte da cidade fosse decidida”. Os covardes da resistência.

O capítulo “Um homem gordo” é recheado de construções primorosas. “Passava gente correndo no rumo do Alto da Conceição. Vinha dos lados da cidade. As bodegas, espremidas entre as casas, onde feixes e feixes de lenha se alinhavam aos montes nos ângulos das paredes, eram invadidas e as achas desapareciam, sorvidas pela massa deslizando desordenada, deixando para trás um zumbido de abelhas assanhadas”. O ataque à residência do perseguido: “A massa avançou contra as portas inseguras. As janelas desabaram com estrondo, as portas abriram-se, arriando sobre os batentes. Pelas goelas das portas e pelos buracos das janelas, pobres móveis imprestáveis eram atirados e iam de encontro às pedras nuas debaixo de um céu mudo”.

“Os acontecimentos entravam-lhe pelos nervos adentro como verruma, dando-lhe vontade de ir embora... Mossoró não tinha futuro. Longe, em outros lugares, pelo menos não existia essa certeza de não ser nada, de não mudar as coisas” Ladislau, ou Milton?, cansado.

Autobiografia de Milton

Todo romance tem um quê de autobiográfico, disto nenhum escritor há de escapar. Com Milton Pedrosa não foi diferente. O tecido narrativo toma, de empréstimo, cenas e fatos da geração de Pedrosa, grande parte da narrativa se desenvolve entre 1920 e 1930. História e estória convivem num entrelaçamento bem equilibrado. Tipos e personagens trazem a força de quem leva a vida a pulsar dentro de si.

Mossoró, entreposto comercial. “Cavalos, burros e jumentos arrastavam-se magros, secos, os ossos espetando a pele... tomados por aquele desalento que dominava os homens, os animais e a terra”. A poeira fina, marca registrada da cidade: “Mossoró vivia na sua modorra, as ruas desertas e nuas. Quando o sol a pino fuzilava nas pedras e o ‘Nordeste’ seco espalhava a poeira de casa adentro, a tristeza crescia ainda mais. Parecia vir de longe no bojo do vento”.

Finalmente, a partida. “ Vai para o Rio de Janeiro...” A noite toda ouvindo a voz descrente: “’ Qual! Você não sai é daqui. Com essa moleza!’ Procurava esquecer, mas o motejo do outro inchava em sua cabeça”. O encontro com Nicácio no Rio, e a desilusão. Em seguida, a conversa com o escritor Bezerra Lopes. “O poeta era a primeira pessoa a descer até ele para explicar as coisas”. O desabafo de Nicácio: “ Umas bestas! Você ainda está com ilusão. São todos uns vendidos!”. “De repente, tudo aquilo esfumou-se... o poeta deixou de existir, no espaço surgiram grandes e negros urubus”. E a esperança dava lugar ao desespero.

Quando na multidão, “olhava ao redor, e que distinguia? Seus olhos apenas viam tristezas na face do próximo. O riso não passava da amargura humana sob disfarce, o mundo não era o que esperava dele... Procurava misturar-se, igualar-se aos demais, fundir-se no todo, e percebia que jamais o conseguiria”. E tal singularidade em Ladislau roía-lhe a carne e o juízo. “Na casa de Bezerra Lopes, o poeta estendeu-lhe a mão. E ele apertou-a, como algum náufrago se agarra a uma esperança salvadora”. Mas somente o homem salva a si mesmo. “Não. Não adiantava. Sua vida vinha era de dentro para fora. Da criança de pés descalços nas ruas largas e vazias da cidade humilde, onde ninguém sabia o que fazer do tempo, e os meninos se educavam com as histórias de cangaceiros, de buracos de balas, de furos de faca, de surras dadas pela polícia, de pedidos para votar em doutor fulano para deputado, da pobreza e da fome. Sim, da pobreza e da fome...”. E seguimos o calvário de Ladislau, descrito de forma respeitosa pela pena de Pedrosa. “ Não se esqueça da gente”, dizem milhões de donas Hildas, espectros de sua madrasta, e “a noite envelhece”.

Milton Pedrosa. “De lá de Mossoró, ele saíra. Não podia sair dele próprio. Do que ficava por dentro. Disso não tinha conseguido fugir, libertar-se definitivamente... O vazio que sentia era um peso obrigando-o a refugiar-se no passado. Era um rio onde outras vidas vinham a se despejar.” E nas pegadas desses passos cegos é que formou a riqueza telúrica desta grande obra. O romance de Mossoró.

Honra imerecida

Hoje, imerecidamente, passo a ocupar a cadeira de número 30, da Academia Mossoroense de Letras (AMOL), cujo patrono é o ícone da imprensa mossoroense Jeremias Nogueira da Rocha, e o seu primeiro ocupante foi ninguém menos do que um dos maiores homens das letras desta terra de Santa Luzia: o contista, cronista, novelista, romancista Milton de Albuquerque Pedrosa. Nascido em Mossoró, aos 17 de novembro de 1911; sim, estamos no ano do seu centenário de nascimento, e a ele rendo todas as graças e vivas desta noite.

Por que imerecidamente?! Explico. Aprendiz de escritor com um livro de contos Licânia (2007), com um livro de minicontos Lápis nas veias (2009) e, hoje, nesta noite de 27 de maio de 2011, a lançar um pretenso livro de poemas Novenário de espinhos, como poderia ser digno de ocupar a vaga de um mestre de mais de uma dúzia de belos livros? A face de Marta (contos); Passos cegos (romance); O homem que não gostava de cães (contos); Noite e esperança (novela); O diabo é meu amigo (teatro); Américo, este mundo e o outro (romance); Bibi e os Gonguêos (contos); Gol de letra (ensaio e antologia); Futebol tem cada uma... (sob o pseudônimo de Armando M. Graça); Fantasma em Orós (romance); A velha e os gatos (contos – coletânea)..., dentre outros.

Familiares de Milton Pedrosa, familiares desse mossoroense falecido no Rio de Janeiro aos 21 de dezembro de 1996: nossa gente, nossa imprensa, nossos homens e mulheres e, em especial, esta Casa de Cultura não podem deixar de render aleluias literárias a tão grande mestre, a esse Pedrosa reconhecido nacional e internacionalmente. Com livros traduzidos para o russo, o romeno e o espanhol.

E a você, meu caro Milton, prometo dedicar-me, com arte e engenho, a ser um pouco mais digno da sua augusta memória. A AMOL, que porta a honra de ter em seus quadros o seu nome, nunca será um Paraíso Perdido.

A todos os presentes, em especial aos meus pais, aos meus familiares, aos amigos que promoveram esta noite, na pessoa de Francinete, (sem esquecer a minha musa Biscuí), o meu muito, o meu muitíssimo obrigado.