Clauder Arcanjo
Sacrifício
Ao acordar, a despensa vazia e o ronco da fome. Ao sair à rua, vagas inexistentes e exigências crescentes. Ao chegar, tonto e cansado, a certeza de uma noite longa e sem a esmola do sono.
No outro dia, o sacrifício à soleira da porta, a esperá-lo, insone e determinado.
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Saudade
Um manuscrito sobre a mesa. No centro da casa recém-alugada. Páginas já marcadas pelos anos e pelos dedos da leitura. Aberto, com um peso sobre ele. Uma estatueta de Buda. O vento tentava assanhá-lo, mas era contido.
Pus meus olhos curiosos. Na parte aberta, uma história falando de juventude, lembrei-me da minha. Avancei. Logo adiante, desventuras da maturidade, relatos nos quais me vi. Voltei. Ao início. Neste momento, já sentado e de óculos, capítulos da infância, espelho da minha meninice. Percebi que tinha epílogo, porém fechei o manuscrito, contentei-me com as lágrimas da saudade.
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Sexta-feira treze
Sexta-feira, treze. Crendices penduradas no varal de todas as bocas. Gatos pretos presos, escadas amarradas, pés de coelho por todos os lados.
Manoel com um dia contido, sem riscos. Quando a noite se apresentou, ele a cuidar de dormir para encurtar o dia.
Marieta, a amante, a esperá-lo em uma mesa de bar, atribuindo tudo a outra saia. Antes da meia-noite, ela, revoltada, deslizou para os braços de um outro qualquer. Um jogo de sexo que espantou os gatos, destroçou a escada do pequeno aposento e eriçou o casal de coelhos que ainda restava na casa.
Azar de Manoel!
Prezado Clauder,
ResponderExcluirObrigado pela oportunidade de poder enriquecer a minha leitura com as suas obras.
TFA
Nelson Dias