segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Saudação a Novenário de Espinhos* (Parte II)


Por Clauder Arcanjo

Algumas vezes, a garra adunca de Eros assumia a minha pena, e mergulhava-me todo em “Cânticos de danação”.

Envergonhado, largava o mister poético e fechava-me em copas de ‘santidade’. Para, em poucas horas, entregar-me profundamente aos lampejos melífluos de uma paixão-tesão insana.

“Nos ouvidos, ecos de Eros,/ Em ganidos e urros loucos/ — Cânticos de danação.”

Aqui estou a falar daquilo que se tem pouco a dizer. Na raiz de tudo, a inquestionável impossibilidade do contentamento. A revolta contra o fim, a rotina, ou contra o caminhar com os limites (freios!) à mão. A poesia tem cheiro de infinitude. Tem ares de eternidade, apesar da sua estreita ligação com a realidade que nos cerca (e enerva).

No fundo, no fundo, divisamos apenas “Frestas”.

“Nada a rezar/ Nem ao menos a duvidar./ Nada de sol nem de cor./ Em torno, bem no entorno,/ Apenas frestas, poucas/ Frestas ao sentenciado.”

Se me fiz poeta? Se me tornarei imortal?

Não sei, sinceramente não sei. Apenas sei que não quero viver sem a companhia da minha poesia. Tosca, desajeitada, desrritmada... Mas é ela quem sabe falar melhor de mim, e a mim. “Remissão tardia”.

“Menti,/ Quando te disse/ Que escrevia poemas.”

Biscuí, todos os meus livros deságuam em ti. Novenário é dedicado aos nossos filhos — Artur, Mateus e Lucas Francisco —, sementes de amor. Assim como eu, discípulos teus.

Apenas desejo que Novenário de espinhos não seja mero espinho prosaico, visto que tem a pretensão de novenário poético.

Visitai as páginas-contas deste meu Novenário.

Lá, tereis “Um tanto assim” de angústia; no entanto, um bocado assim de enfrentamento. Servirei o “Café das cinco”, com Miriam Carrilho e Rizolete Fernandes. Sob a guarda da arte augusta de Augusto Paiva, em fotos de Fred Veras, e com desenhos de Augusto, Lourenço e João Helder Alves Arcanjo, meu mano caçula. Todos eles meus fiéis companheiros de utopia literária, salvadores do meu Novenário.

“Altissonante”, lembrar-vos-ei de duas companheiras traquinas: a vida e a morte. Contudo, comprometo-me, pronunciarei poucas verdades e um punhado de indagações...

Ou seja: “Um viver, da memória, povoado”.

Novenário de espinhos — “Vem da grota, o rumorejo,/ Balbucio de inquietações,/ Sibilos dos fantasmas,/ Musgos dos ancestrais.”

Que a literatura cubra, e redima, os meus pecados de escrevinhador. Amém.

Muito obrigado, e tenhais paciência com a minha poética. Não olheis as minhas faltas líricas, mas a fé que anima a minha tosca poesia.

*Segunda parte do discurso proferido pelo escritor Clauder Arcanjo, quando do lançamento do seu livro Novenário de espinhos (Sarau das Letras), durante a solenidade de sua posse na Academia Mossoroense de Letras (AMOL), aos 27 de maio de 2011, nos Jardins da Tv Cabo Mossoró (TCM).

Clauder Arcanjo — Escritor

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